terça-feira, 8 de março de 2011

MATERIALIZAÇÕES

MATERIALIZAÇÕES

Escrito por Edvaldo Kulcheski

Toda categoria de mediunidade que sensibiliza diretamente os órgãos dos sentidos físicos dos observadores é conhecida como de efeitos físicos, materiais ou objetivos.

Nessa classe, eles se revelam na forma de fenômenos objetivos, envolvendo elementos materiais que permitem um exame direto por parte dos encarnados presentes, mesmo que não sejam médiuns ostensivos.
O médium de efeitos físicos é aquele que serve de intermediário em todos esses fenômenos, que são audíveis, visíveis e sensíveis aos sentidos humanos. Ao contrário da mediunidade de efeitos intelectuais, ele não é o agente produtor dos fenômenos, mas apenas um elemento que fornece parte dos fluidos necessários aos trabalhos, pois também são precisos outros fluidos vindos de outras fontes.
A mediunidade de efeitos físicos pode se apresentar de variadas formas, sendo que as mais comuns são a materialização, o transporte, a levitação, a transfiguração, a bilocação, a bicorporeidade, a voz direta, a escrita direta, a sematologia e a tiptologia. Além disso, ela permite aos desencarnados fabricarem moldes de parafina e gesso, produzirem efeitos luminosos e desmaterializar objetos.
Para esse fim, os espíritos utilizam o fluido ectoplasmático extraído do médium de efeitos físicos, esteja ele em transe cataléptico (suspensão total dos movimentos voluntários) ou em estado de vigília, uma ocorrência mais rara entre os sensitivos desse gênero. Em geral, os espíritos precisam juntar ao ectoplasma do médium os fluidos que conseguem dos demais que participam do trabalho mediúnico, ingredientes ainda desconhecidos dos encarnados. É aconselhável usar músicas leves e aprazíveis nestas sessões, pois ajudam a harmonizar a vibração mental do ambiente, de modo a favorecer a fenomenologia comandada pelos desencarnados.
Nas reuniões de materialização, os espíritos geralmente pedem que sejam deixadas duas vasilhas com capacidade de mais ou menos 20 litros. Em uma delas, enche-se de parafina dissolvida e fervente, mantida no fogo para conservar uma temperatura entre 80 e 100 graus centígrados (ou mais), enquanto que a outra recebe água fria. Da assistência, é possível se ouvir a parafina ferver e espoucar em ebulição.
Para realizar o trabalho de confecção das luvas, mãos ou pés, o espírito materializado se aproxima das latas e mergulha o membro que deseja reproduzir na parafina fervente. Por exemplo, a mão. Após esse primeiro mergulho, o espírito vai derramando a parafina líquida com a outra mão sobre aquela já recoberta com a camada inicial. Quando julga que a luva está como deseja, mergulha a mão recoberta de parafina fervente na água fria e, neste momento, desmaterializa a mão espiritual, que desaparece e deixa apenas a luva de parafina.
Este é o método mais comum. Se enchermos a luva fabricada com gesso molhado, teremos a reprodução fiel da mão humana, notando-se todas as linhas originais e até mesmo os cabelos e poros da pele. Os moldes de parafina são feitos somente nas materializações parciais, pois não há prejuízos ao médium, que não está com seu duplo etérico envolvido no caso.

Equipes espirituais

O sucesso da fenomenologia mediúnica não depende apenas do médium que fornece ectoplasma ou dos que auxiliam na doação de fluidos. Conta com a eficiência e o conhecimento da equipe de espíritos que opera do alto, técnicos especializados e espíritos auxiliares que têm como objetivo processar os trabalhos de efeitos físicos na Terra.
Habilidosos no manuseio da química transcendental, estes espíritos operam sobre as substâncias etéreo-astrais que, depois, devem ser combinadas com o ectoplasma do médium. Disciplinados, sensatos e conscientes de sua responsabilidade, desempenham as tarefas com mais segurança e eficiência que os encarnados. De acordo com a aptidão individual, subdividem-se em suas funções delicadas, participando ativamente da fenomenologia mediúnica. São elas: diretor, químico-chefe, auxiliar, coordenador, cooperador e segurança ou defensor.
Além do conjunto que opera praticamente na produção de fenômenos físicos, há ainda o elemento que serve de ligação entre os desencarnados e os encarnados, uma espécie de sentinela encarregado de avisar os técnicos siderais sobre quando se realizará uma reunião, a fim de que possam efetuar as providências previstas no ambiente, que são: a higienização fluídica do local, a proteção fluídica, a ionização do ambiente e o emprego de recursos preventivos contra as emanações tóxicas dos assistentes viciosos.

Dificuldades nos trabalhos

O médium, que é uma das peças mais importantes dos trabalhos de efeitos físicos, raramente é uma criatura capaz de cumprir com inteligência a sua obrigação espiritual. Sendo independente, vivendo no mundo físico a seu modo e, muitas vezes, com conduta e sentimentos até opostos à exigência do intercâmbio com o além, ele constitui uma barreira contra a qual as entidades técnicas têm de se defrontar em um labor heroico.
Os espíritos amigos e benfeitores fazem de tudo para sanar esses inconvenientes e proteger o médium da infiltração subversiva do mundo espiritual inferior durante a manifestação mediúnica. Assim, eles lhe higienizam a aura, ionizam o ambiente de trabalho e projetam raios terapêuticos de extinção bacteriana para evitar um contágio nocivo, cercam-lhe de extremos cuidados e lhe intuem a agir para que se encontre em condições favoráveis no trabalho da noite.
Aquele que deseja fazer parte dessas sessões de efeitos físicos deve se dispor a todos os sacrifícios, como, por exemplo, não comer carne. Dizem os espíritos que ela deixa nódoas negras no organismo perispiritual de quem a ingere, devendo ser retiradas antes de se iniciarem os trabalhos, caso contrário, elas atingirão o ectoplasma do médium e o prejudicarão em sua saúde física e espiritual. Não podendo retirá-las do elemento que as possui, os espíritos são obrigados a isolá-las e, para isso, gastam fluidos que seriam usados para os trabalhos de materialização ou tratamento de doentes.
Não comendo carne, colaboramos com os espíritos, pois não terão de nos isolar ou gastar a energia que será aplicada nos fenômenos. Os freqüentadores assíduos do grupo devem se abster completamente deste hábito, mas aqueles que vão assistir os trabalhos apenas uma ou duas vezes poderão deixar de comer carne somente no dia da reunião.
As bebidas alcoólicas e o fumo enquadram-se no mesmo caso da carne, supomos até que com maior gravidade. Quem gosta de beber e fumar deve escolher entre isso e as reuniões. Ninguém poderia imaginar Jesus embriagado ou fumando um cigarro, bem como não imaginaremos um dos apóstolos nessas condições. Logo, isso não foi feito para os cristãos.
Também existem outros fatores que desgovernam os médiuns, como aquele que é disciplinado, frugal e adverso ao álcool, mas é prepotente e presunçoso, aquele de conduta louvável, mas desconfiado a ponto de retardar seu progresso mediúnico por pavor de mistificar ou aquele que é atencioso, hábil e laborioso, mas negocia com sua faculdade espiritual.
Quando os espíritos guias dos trabalhos conseguem dispor de medianeiros razoáveis e bem intencionados, ainda têm de se exaurirem para ajustar os assistentes convidados ou os frequentadores ávidos de fenômenos, mas quase sempre os principais causadores dos fracassos. Além disso, alguns participam das sessões de efeitos físicos depois de acaloradas discussões no lar, de atitudes hostis no ambiente profissional, no transporte ou na rua, carreando para o local os fluidos de violência, esquecendo que o éter desempenha uma função de suma importância na transmissão dos fenômenos para a tela física. A esfera mental do médium em transe é o centro convergente de todas as operações no que toca aos fenômenos físicos, razão pela qual os raios mentais nocivos e as explosões emotivas dos assistentes o ferem, imprimindo uma direção oposta à desejada pelos espíritos comunicantes.

Transe cataléptico

Para os fenômenos de efeitos físicos, os espíritos necessitam do fluido ectoplasmático, extraído do médium em transe cataléptico ou em estado de vigília. Transe cataléptico é quando o médium entra em um sono profundo e, fisicamente, fica em posição estática, com os movimentos voluntários suspensos. Isso ocorre durante o fenômeno de materialização completa, porque o perispírito do médium fica isolado enquanto seu duplo etérico está sendo utilizado para a realização do fenômeno.
Nos casos de materialização parcial, o médium não necessita entrar em transe cataléptico, fornecendo ectoplasma para materializações ou voz direta mesmo assim. Neste caso, em vez dos espíritos deslocarem o duplo etérico do médium para elaborar a quantidade e o tipo de ectoplasma que necessitam para determinado gênero de trabalho mediúnico, esse médium já o fornece na dosagem exigida e pronto para o uso imediato.
Desse modo, ele pode palestrar com as entidades que operam ao seu redor e atender às solicitações dos presentes sem revelar qualquer anomalia ou cessar o fenômeno de materialização ou voz direta. Aliás, quando os espíritos dispõem de ectoplasma suficiente e já dosado na fórmula química prevista, eles costumam despertar o médium do transe cataléptico e também conversam com ele, dando-lhe instruções ou fazendo advertências sobre sua conduta moral.

Materializações de espíritos

Os espíritos desencarnados não podem se materializar servindo-se apenas de seu perispírito. Para que possam conseguir isso, revestem-no e o interpenetram com a substância plástica ectoplasmática que parte do duplo etérico projetado pelo médium ou das pessoas presentes.
Durante as sessões de fenômenos físicos de materialização, o ectoplasma fornecido pelo médium em transe atua com êxito no limiar do mundo etérico e físico, incorporando-se à fisiologia do desencarnado através de avançados processos técnicos e de química transcendental. Quando ele circula por toda a vestimenta perispiritual pela vontade do espírito comunicante, esta se materializa diante da visão e do toque dos encarnados.
Porém, se o desencarnado preferir efetuar o acúmulo de fluidos ectoplasmáticos apenas em um de seus órgãos, como fígado, pulmão ou coração, então ele se tornará palpável ao exame dos sentidos físicos e apresentará todas as reações e o ritmo idênticos aos do corpo carnal. O espírito pode, por exemplo, materializar preferencialmente o seu coração perispiritual, destacando-o dos demais órgãos de seu perispírito, revelando corretamente seus movimentos de diástole e sístole cardíaca graças à cota de ectoplasma do médium e da parte extraída dos assistentes.
Em virtude da indocilidade do éter físico, que é difícil de ser submetido completamente ao domínio dos desencarnados, estes se veem obrigados a aparecer aos encarnados de modo grotesco, ora recortando nitidamente a cabeça, mas deformando o restante de sua figura perispiritual, ora incorporando as mãos, mas sacrificando a delicadeza da fisionomia. É apenas questão de economia fluídica, como os técnicos siderais também fazem na voz direta, quando utilizam todo o ectoplasma disponível para a confecção da laringe provisória enquanto cessam os demais fenômenos, como levitação ou materializações.
Nos trabalhos de efeitos físicos, os fenômenos só ocorrem simultaneamente quando os espíritos manifestantes também dispõem de bastante ectoplasma. Assim, muitas vezes, os encarnados estranham as figuras deformadas que se manifestam ou se decepcionam, crentes que os espíritos são realmente criaturas lúgubres, disformes e fantasmagóricas.

A importância da música

Nos trabalhos de efeitos físicos, a música contribui com o apuramento e a sintonia das vibrações mentais dos assistentes e do ambiente no qual se realizam ou se processam tais fenômenos, favorecendo seu êxito. Embora os sons da música repercutam na atmosfera e não no éter, eles influenciam os assistentes ao integrá-los em uma só frequência vibratória e favorecendo os espíritos no sentido de conjugarem o ectoplasma do médium às energias psíquicas que são mobilizadas no espiritual.
As ondas sonoras estimulam e se combinam com as vibrações perispirituais dos desencarnados e encarnados, resultando em uma maior exalação de ectoplasma do médium e das energias vitais dos presentes. A música auxilia vibratoriamente esse gênero de trabalho mediúnico, mas como ela exerce profunda influência na alma dos seres, é sempre conveniente a preferência por canções isentas de tragédias, melodramas, situações lúgubres, burlescas ou de profunda tristeza, a fim de se evitar a degradação emotiva dos assistentes durante a fenomenologia mediúnica.
O papel da música é nutrir o otimismo dos presentes, evitando que se perturbe a coesão da harmonia mental e psíquica essencial ao sucesso dos trabalhos de efeitos físicos, bastante complexos e com certa responsabilidade por natureza. Porém, em breve, a música de amplitude e sentimento espiritual será um elemento integrante e até obrigatório em todos os ambientes onde se processarem os fenômenos de psiquismo mediúnico, não só nessas sessões complexas, mas em todas as reuniões doutrinárias.

Artigo publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição especial 06.

Nenhum comentário:

Postar um comentário